Expandindo fronteiras: festival Honk! no Brasil
uma análise sobre ativismo, efervescência e ritmo no Honk Rio!
Michel Moreaux and Maria Cláudia M. M. Pitrez
Translated English version
Introdução
A ocupação e transformação espacial da cidade é uma característica marcante dos festivais Honk! que, junto às músicas e performances de diferentes grupos, também celebram arte e política de forma peculiar. Estar tocando nas ruas e praças também é uma forma de repensar e refazer os espaços citadinos, bem como restabelecer novas trocas e relações sociais. O objeto de estudo deste trabalho traz algumas análises nesta direção ao se aproximar das performances e apresentações do Honk Rio!. O festival acontece na cidade do Rio de Janeiro desde 2015 e é um dos exemplos do crescimento e expansão dos festivais Honk(s) que foram rompendo as fronteiras do seu país sede (EUA), ganhando novos territórios em outros países.
Esse panorama de expansão dos festivais para além do contexto americano e a intensificação de encontros anuais vem contribuindo para inúmeras trocas entre os participantes como estilos de performances e musicais, planos de organizações e, sobretudo, na propagação de um sentimento comunal e de pertencimento de ser Honk, um jeito e “ethos” Honk: ser colaborativo, ocupar espaços públicos e escolas, levar diversão e reflexão política. Isto ficou claro para nós ao acompanhar a criação do Honk! Rio em comparação com outros Honk (s) nos EUAs que participamos, bem como a criação do Honk São Paulo e de Brasília. Percebe-se que, por um lado, há uma tentativa de manter de forma respeitosa a premissa do festival em ser colaborativo e sem fins lucrativos, de fortalecer o “ethos” Honk, enquanto, por outro lado, nota-se também diferenças e particularizações que cada nova cultura e espaço engendram. Cada cidade e seus conjuntos de ritmos normativos e contra-normativos (LEFEBVRE, 1992; STAVRIDES, 2016) vão compor um cenário distinto e a forma de ocupar as ruas com performances durante o festival vai consequentemente variar em cada local.
A partir da base de pesquisa de campo[1] observamos inúmeros relatos sobre um estado emocional alterado durante o Honk! Rio, sobretudo dos músicos e organizadores que destacaram o fortalecimento de laços comunais e de efervescência. Essa base empírica nos levou a refletir o festival como um ritual urbano musical que proporciona um break no cotidiano e estabelece uma outra perspectiva emocional, no sentido atribuído pela noção de communitas (TURNER, 1978), e outra dimensão espaço-temporal onde locais rotineiramente situados em zonas de trabalho se transformam em palcos e as ruas em verdadeiros cortejos de pessoas .
Diante disso, alguns questionamentos mais gerais e outros mais particulares surgiram, tais como: a criação de um movimento musical de rua que vem se conectando e se fortalecendo, formando um tipo de rede comunitária internacional, onde o encontro presencial é uma das bases para fomentar trocas, afetividades e efervescências e outros ritmos no cotidiano urbano; e como esse festival se particulariza no Rio de Janeiro, considerando o contexto carioca de carnaval de rua, neo-fanfarrismo e transformações urbanas sociais. Como questionamento central tomamos a seguinte pergunta: em que medida o festival Honk Rio transforma efemeramente as emoções dos participantes e os ritmos da cidade? Podemos pensar numa suspensão momentânea do tempo, que transforma as emoções dos participantes e tende a se configurar como uma ruptura dos ritmos da cidade?
Resolvemos organizar as análises do festival agrupando-as por temáticas das quais consideramos importantes para compor o cenário reflexivo proposto sobre entre ritual urbano, música, ativismo social, ritmo e efervescência de modo a destacar algumas transformações do Honk! Rio ao longo de 4 edições, bem como as percepções e emoções dos envolvidos durante os cinco dias do festival em 2018. Com isso, o texto ficou composto por 4 pontos - ritos e ritmos urbanos: ruptura, efervescência e communitas; música de rua e ativismo social; tempo de política, arte e feminismo; ocupação de novos espaços e ritmos da cidade - e uma parte conclusiva que assinala alguns apontamentos gerais que surgiram durante a pesquisa, deixando também contribuições para novas pesquisas sobre o movimento Honk dentro e fora do Brasil.
Ritos e ritmos urbanos: ruptura, efervescência e communitas
O ritmo é um conceito analitico e metodológico de Lefebvre (1992) para identificar uma complexidade de movimentos e dinâmicas que coexistem e atuam num determinado tempo e espaço. Todavia, embora a ideia de ritmo esteja ligada à repetição, isso não compromete em um resultado igual e repetitivo, sem possibilidades de mudanças, descobertas e inovações, pois para Lefebvre a repetição também é reveladora de diferenças. Assim, a ritmanálise, que se baseia sobre uma crítica da vida cotidiana, é fundada numa ótica de transformação, abordando a dimensão relacional do espaço e enxergando processos de continuidades e descontinuidades nos tempos sociais.
Tanto os ritmos quanto os ritos ajudam a demarcar a vida social em momentos ordinários e extraordinários. Associando esses dois conceitos, estamos pensando num bordejar dialético que contempla distintas dinâmicas sociais e ritimicidades. No caso dos rituais, podemos notar como eles provocam interrupções na vida rotineira, dando lugar a um novo enquadramento social, emocional, criativo e de efervescência. É uma forma de ruptura com potencial transformador, um fato extraordinário com relevâncias e eficácias simbólicas para a vida em comunidade. Mariot (2001) mostra como Durkheim associa a efervescência como especificamente relacionada com a ação ritual em si, a festa tendo um papel primordial (declencheur) para esse “estado de exaltação” que transporta o homem “fora de si, distraído das suas ocupações e preocupações ordinárias”(MARIOT, 2001, p.714). O rito aparece eficiente para quem participa dele e os participantes aderem ao rito pelo contágio da intensidade emocional na qual acabam sendo envolvidos.
Nas entrevistas realizadas com os músicos podemos perceber inúmeros exemplos que falam sobre uma alteração emotiva durante o Honk! Rio, provocando um estado de união entre os músicos e participantes: “o Honk cria um sentimento colaborativo e uma vontade de seguir atuando nas ruas com arte” ; “traz principalmente prazer em tocar. E esse prazer parece contagiar todos os envolvidos, tanto músicos como ouvintes”.; “não estamos isolados em nossas cidades. Existe um sentimento que é coletivo em torno de uma mesma coisa. Isso é muito bom”; “o Honk me emociona muito, sinto muito amor por todos os músicos e pessoas que trabalharam para dar certo, para o evento acontecer. Às vezes no meio do festival, eu paro e observo as pessoas, e são tantas pessoas felizes nesse momento, mesmo com a política caótica, a vida sendo vida... Isso me faz acreditar em um mundo melhor”.
Considerando as falas acima, percebemos como existem diferentes possibilidades de romper determinados ritmos do cotidiano durante os cinco dias de festival e como isso contribui para gerar estados emotivos alterados, algo de subversão no qual pode-se “acreditar em um mundo melhor”. A partir desse potencial de mudança e de efervescência social podemos dialogar também com as perspectivas desenvolvidas por Victor Turner e o conceito de communitas relacionado à noção de liminaridade. O autor define a noção de liminaridade como um momento de margem, uma espécie de processo transitório, uma fase onde inaugura-se uma nova configuração com a existência de uma antiestrutura, um estado de communitas que rompe com a ordem “natural” da sociedade. Richard Schechner (2002) argumenta que toda a arte performada tem um caráter aberto e processual, de algo que está sendo feito através de jogos de ensaios e improvisos. E é essa processualidade e liminaridade, onde algo pode dar certo ou não, que gera um poder comunicativo envolvente, baseado em empatia, emoção e comunhão.
Para Stavrides (2016), existem determinadas performances e práticas rotineiras que podem instituir descontinuidades nos espaços públicos, instaurando outros ritmos e novas possibilidades de ser afetado: isso pode ocorrer de forma imediata ou mesmo depois de um tempo, através da memória coletiva compartilhada. O autor coloca uma questão que é interessante referente a até que ponto “o espaço da cidade pode expressar e fomentar práticas e valores distintos ou até opostos aos dominantes” (idem, p.31).
Esse questionamento nos atentou para verificarmos mais de perto como a ruptura ocorre o Honk! Rio. Todavia, a partir das leituras do antropólogo brasileiro Roberto da Matta (1997), que analisou diferentes rituais - tais como, procissão religiosa, parada militar e o carnaval - percebe-se que embora os rituais ou as performances dialoguem e até mesmo reforcem valores dominantes, elas não deixam de estabelecer uma áurea e colorido especial, com eficácia simbólica e efervescência para seus participantes. Seja através de rituais que reforçam ou invertem valores dominantes, existe um novo estado emocional, um sentimento comunal que fortalece os indivíduos. Assim, para Da Matta, seguindo uma perspectiva baseada em Turner, o rompimento do cotidiano com novos ritmos e sentimentos oriundos de um ritual ou performance não resulta apenas de ritos que rompem valores sociais opostos aos dominantes. O próprio ritual já é um momento especial que já instaura um novo tempo e espaço. No caso do Honk! Rio percebemos algumas rupturas espaciais e emocionais que ora reforçam valores dominantes e ora criticam e vão contra determinados status. No caso de 2018, o feminismo teve grande papel de crítica social e de romper determinados padrões nas fanfarras, em sua maioria composta de homens.
Música, rua e ativismo social
A programação do Honk! 2018 foi intensa e realizada durante 5 dias ininterruptos, de quarta-feira até domingo, 14 ao 19 de novembro. Neste ano, os organizadores escolheram programar o Honk! Rio junto ao feriado (quinta-feira dia 15), fato que permitiu agregar mais público, especialmente de passeio e turismo pelo centro da cidade, além de também facilitar a participação das fanfarras vindo de outras cidades do Brasil, já que muitos músicos têm emprego formal. Para montar a programação do Honk! Rio vários encaixes complexos são levados em conta pelos organizadores, que procuram associar horários disponíveis de todas as fanfarras, locais de apresentações e proposta performática. Como apontou uma das organizadoras, existe um cuidado na seleção entre as fanfarras de acordo com estilo musical e temáticas performáticas (formato bloco ou banda, circo, feminismo e dentre outras) para criar um clima musical que não traga muitas rupturas ou mesmo fique muito repetitivo. Assim, foram ao todo sessenta e cinco apresentações agendadas ao longo dos cinco dias de programação; cinco cortejos envolvendo nove fanfarras; cinco oficinas (palhaçaria aplicada à fanfarra e dinâmicas de composição coletiva); uma sessão de três rodas de conversa (que aconteceu na quarta-feira); além dos momentos após a programação, que muitas vezes deixam os músicos tocar até o sol raiar.
De forma geral, o quantitativo de bandas do Honk! Rio que participam vem crescendo e pela primeira vez, foram recusadas algumas fanfarras para não ultrapassar o quantitativo de trinta bandas na programação[2]. Dentro desse volume crescente de fanfarras brasileiras, é notável o “boom” de fanfarras da cidade do Rio de Janeiro. No primeiro Honk! Rio, em 2015, a programação já contou com 16 grupos cariocas, um quantitativo expressivo se compararmos com outros festivais Honk (s), onde observa-se um número de 1 a 3 fanfarras oriundas da localidade do festival. Como bem apontou Snyder (2018), este número elevado e crescente de fanfarras está atrelado ao contexto musical de rua da cidade carioca, uma primeira particularidade e contextualização do Honk! Rio.
Desde os anos 2000, verifica-se um crescimento expressivo do carnaval de rua, Herschmann (2013) chama esta fase de o “boom” do carnaval de rua, com o surgimento de novos grupos e diversas oficinas de musicalização dos blocos espalhados pela zona sul e central da cidade. Como destaca Barros (2013) no carnaval de 2010, foram registrados 465 blocos que levaram quase 5 milhões de pessoas às ruas da cidade. Este panorama carnavalesco efervescente vem renovando o cenário musical e a ocupação urbana e artística, com o surgimento de novos agentes (FRYDBERG, 2017) e disputas em torno do espaço público e do direito à cidade (SAPIA, 2016).
Em conversa com uma musicista americana e organizadora do Honk Texas, que já morou no Rio de Janeiro e participou de diferentes Honk (s) nos Estados Unidos, ela comenta que uma grande diferença perceptível do Honk! Rio é a formação de um circuito musical de rua, tanto de músicos e de plateia, que a cultura carnavalesca ajudou a fomentar. Como comenta a entrevista, a cidade do Rio de Janeiro já sabe fazer um festa de rua:"
O Rio tem uma cultura tão grande de blocos com o carnaval, com música de rua e platéia. Nos EUA, bandas de estilo honk ainda são muito raras, incomuns, e a maioria das pessoas nunca viu uma. Então todo show no Rio tem bastante público e a cidade já sabe como funciona; a cidade sabe fazer uma festa na rua tanto em relação aos músicos, vendedores e a plateia. Nos EUA, não temos carnaval (exceto Nova Orleans) e as pessoas não estão acostumadas com música de rua, grandes bandas ou shows fora de bares ou teatros. O público não sabe o que fazer. (D. musicista e organizadora do Honk Texas)
É com este pano de fundo, conectado ao carnaval e aos blocos, que o movimento de fanfarras ou neo-fanfarrismo surge em terras cariocas e se associa aos festivais Honk(s). No entanto, a mesma influência carnavalesca no Honk! Rio também traz alguns questionamentos que vem repercutindo nas transformações do festival. Se por um lado o carnaval carioca favorece uma rápida e festiva ocupação das ruas, ele também “carnavaliza” o festival, confundindo-o e retirando alguns elementos centrais em torno das ações ativistas e engajadas que são preconizadas nos festivais Honk(s). Se em alguns Honk(s) o fato de estar na rua ocupando-a e tocando já é um ato de ativismo por instaurar novas ritimicidades ao contexto urbano, no caso do Rio de Janeiro, considerando a sua forte cultura de festa e música na rua, esse componente não se apresenta suficiente; fato que vem trazendo inúmeros questionamentos e mudanças no Honk! Rio:
Esse movimento de fanfarra, que é bem próximo e surgiu coligado ao carnaval, traz um desafio que é o de distanciar o festival de determinados estereótipos e comportamentos que o carnaval instaura de loucura total e subversão das regras! Será que toda intervenção na rua de música tem que se transformar num carnaval? É um pensamento que a gente tem e que tentamos ver o jeito de desvencilhar de algumas loucuras total e pensar no espaço, na limpeza, nas pessoas que vão assistir e como podemos manter um vínculo o ano todo com esses locais. (L., organizadora)
Este desafio frente à aproximação de um “ethos carnavalesco” da cidade carioca surgiu também em diferentes falas de entrevistados que não foram oriundas apenas de organizadores (como a frase acima), mas de músicos e o público em geral. De acordo com Snyder (2018), que estudou o movimento de fanfarras do Rio de Janeiro e participou da produção do primeiro Honk! Rio, o ativismo social está se dando de forma processual dentro deste contexto. O autor considera que, aos poucos, a consciência individual e, sobretudo, coletiva, vem surgindo e trazendo novos porquês e responsabilidades em torno do ato de tocar nas ruas e de se fazer um festival que tem como base o ativismo. Essa consciência processual se confirma ao longo desses 4 anos onde se percebe tanto uma maior relação e influência com bandas de dentro e fora do Brasil que participam de outros Honk (s), bem como com outros grupos, artistas de rua e movimentos culturais que atuam nos espaços públicos e periféricos da cidade. O debate em torno do conceito de ativismo atrelado ao nome do festival Honk, que surgiu desde o primeiro ano de realização (2015), é um exemplo disso pois sofreu reelaboração lexical ao longo das edições: de “festival de fanfarras engajadas”, em 2015 e 2016, passou a se definir como “festival de fanfarras ativistas”, em 2017, até “festival ativista de fanfarras” em 2018. Isso retrata o cuidado e os debates que cercam, entre organizadores e músicos, essa efetivação do Honk! Rio nas ruas e praças da cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com a organizadora do Honk Texas:
Eu acho que Honk! Rio é mais político do que Honk Texas, mais ativista. Provavelmente uma função da confortável bolha que os americanos vivem. Fiquei especialmente impressionado com o Honk! Rio realizando eventos em espaços que talvez sejam mais perigosos, como forma de reintegrá-los, recuperá-los. Esse é realmente um aspecto poderoso e legal do Honk! Rio. Também tentamos atravessar alguns desses limites indo às escolas dos bairros mais pobres aqui no Texas. Mas acho que é mais profundo e mais crítico no Rio, pois Boston, Seattle e Austin, por exemplo, são cidades bastante ricas e calmas. Eu acho que o Honk! Rio assume mais riscos em termos de ocupação do espaço de performance. Eu acho que é muito mais forte dessa maneira.
O comentário acima nos apresenta um olhar estrangeiro e de quem participa de outros Honk (s). Para ela a própria cultura de música de rua e do carnaval já é um ato político de ocupação da cidade e do espaço público. Como comenta, ao comparar com outras cidades do Honk nos EUA, o Honk! Rio ganha uma perspectiva ainda mais política no sentido de ser um festival de rua no meio do centro de uma cidade grande e intensa, com conflitos e desigualdades sociais, bem como por procurar integrar novos locais a cada ano. Esse posicionamento é interessante como comparativo ao passo que assinala como a questão do ativismo social é uma relativa ao espaço sociocultural no qual o festival acontece. Como pudemos observar ao longo de 4 anos de festival, essa temática se tornou um debate tanto para organizadores quanto para músicos e que a cada ano vem provocando mudanças, rupturas e inovações. Os ataques Honks, que são ações sociais e musicais ao longo do ano, em parceria com determinados grupos urbanos situados em áreas que o festival pretende atuar, já é um grande exemplo disso (abordaremos mais à frente esses ponto). Outro exemplo dessas transformações foi a ação feminista que marcou o Honk! Rio 2018, vejamos um pouco mais.
Tempo de política, arte e feminismo
O processo de elaboração e realização Honk! Rio (desde a ideia pioneira surgida com Os Siderais em 2013) inicia-se diante de uma situação política, econômica e social do Brasil conturbada, com intensas manifestações que iniciaram com os movimentos de Junho de 2013 e que se estenderam com a realização dos grandes eventos esportivos (Copa do Mundo, em 2014, e Olimpíadas, em 2016), com o impeachment da presidente, em 2016, e o movimento Ele Não frente à candidatura do Bolsonaro,ambos em 2018. No cenário da cidade do Rio de Janeiro esse quadro intenso se somou à crise e quebra do governo do Estado, em 2016 e 2017, bem como com a eleição de um prefeito assumidamente religioso, que se posiciona de forma contrária às manifestações populares e musicais nas ruas. Todo esse contexto no qual surge o Honk! Rio trouxe inúmeros reflexos para dentro do festival dentre os quais muitos estão associadas aos questionamentos quanto o que seria o ativismo dentro das performance das fanfarras e na ocupação dos espaços públicos que o festival realiza.
O Honk de 2018 apresentou algumas performances expressamente políticas especialmente relacionadas ao empoderamento feminino. Notadamente esse ano foi um momento conturbado em decorrência do assassinato brutal da vereadora Marielle em março e das eleições presidenciais em outubro de 2018. Como argumentam Palmeiras e Heredia (1995), nesses períodos inaugura-se um tempo maior, o “tempo de política”, que tal como um fato social total, no sentido maussiano, nos deparamos com a maioria das relações do cotidiano sendo regida por um conjunto de práticas e valores correspondentes ao ano eleitoral. Nesta direção o Honk 2018 foi atravessado por essa temporalidade e pôde-se perceber diferentes formas de expressão. De acordo com uma das participantes e idealizadoras: “A Bloka foi um grupo criado para o Honk com objetivo de dar visibilidade para as mulheres que, apesar de um quantitativo cada vez mais crescente, ainda são minoria nesse movimento de fanfarras e com pouco visibilidade. Muitas tocam nos blocos das fanfarras, mas nas bandas não! É um bloco feminista que trouxe no seu repertório músicas protesto.”
A visibilidade da mulher em diferentes campos de ação foi destaque não apenas no Bloka, mas também na própria organização do festival, que contou majoritariamente por um time feminino, como também na formação de outras duas fanfarras. O contingente de mulheres tocando e atuando vem chamando atenção e o Bloka foi a culminância desse movimento, agregando mais de 60 participantes tocando e andando na perna de pau. O grande número de participantes do Bloka logo chamou a atenção do público e ganhou unidade com as cores - verdes e preta - e a camiseta que foi feita por uma integrante com um desenho simbolizando luta e feminismo junto com as letras do nome. O protesto foi realizado tanto em seus corpos descobertos e cobertos como também nas músicas escolhidas para compor o repertório, com as letras modificadas para trazer mensagens sobre as lutas das mulheres, desafios e conquistas. O efeito performático do figurino, das letras e perna de pau, além no quantitativo de mulheres reunidas ecoou e contagiou o público. Segundo relatos, a emoção foi impactante, muitas pessoas choraram e “vibram” juntas: “o Bloka na abertura do festival, com repertório e participação do Slam das Minas, foi um manifesto feminista necessário e muito emocionante”; “BLoka na Cinelândia foi lindo, muita mulher foda querendo gritar, cantar, tocar e vibrar juntas”; “achei que a Bloka fez um trabalho fantástico trazendo mulheres artistas de rua para compartilhar seu trabalho e promover uma reflexão feminista”.
A fanfarra mineira Sagrada Profana, que tem ampla atuação artística e política em Belo Horizonte, também realizou performance políticas durante o Honk! Rio. O público participou cantando as letras das músicas, se aproximando das meninas que fizeram para cada música uma performance diferenciada. Algumas músicas foram cantadas e também modificaram partes de letras trazendo questionamentos sobre o controle e regras heteronormativas ao corpo feminino. O próprio nome Sagrada Profana é um brincadeira quanto ao estigma social do papel da mulher entre santa (Sagrada) e puta (profana).
Nas entrevistas com o público em geral ouvimos muitas pessoas comentando que ficaram fascinadas com a sonoridade da banda que dava para ouvir as flautas e os clarinetes. Pudemos conversamos com mulheres de faixa etária diferentes e percebemos como o impacto atravessou gerações. Uma senhora de 70 anos que estava passando na Praça Saens Peña na Tijuca ficou ficou emocionada com a apresentação delas e foi buscar a irmã mais velha em casa para ir vê-las na praça: “gostei muito dessas meninas, da interação com o público, o repertório, o figurino, a execução musical e coreografias. Elas têm uma garra e suavidade, estão seguras ao tocar. E me emocionei muito quando gritaram Mariele Presente porque foi minha vereadora”.
A fanfarra francesa Les Muses Tangent foi mencionada diversas vezes pelos entrevistados - músicos e público em geral - como uma banda impactante. A fanfarra composta por 20 francesas traziam em sua performance suavidade e força ao mesmo tempo. Os arranjos com aberturas de vozes nos instrumentos de metais e grande presença do bombardino, instrumento que não é muito usado nas fanfarras brasileiras, gerou uma curiosidade. O arranjo melódico e a pressão da percussionista ao tocar o bumbo emocionaram os participantes que ficavam ao redor gritando e interagindo com o repertório festivo e dançante. O fato de ser uma fanfarra internacional também gerou um tipo de expectativa e o retorno do público contagiado pela pulsação francesa foi bem expressivo
Cada fanfarra de mulheres apresentou uma performance bem distinta. Diferente das outras bandas feministas na qual o público participou de forma mais atenta às mensagens e atos políticos cantados e exibidos nos seus corpos, a fanfarra francesa trouxe um embalo pulsante e rítmico, onde o corpo e a presença feminina trouxeram o recado somente pelo som. O público se manifestou alegre e dançante, agregando-se ao redor das francesas com entusiasmo. Todavia, todas as 3 fanfarras de mulheres foram representativas e destaques como ficou evidente nas entrevistas com o público em geral e músicos. A combinação entre performance musical com viés político favoreceu o acesso a um dispositivo de envolvimento e emoção do contexto sociopolítico atual. Temos um imbricamento entre performance musical e política que nos leva para uma ação coletiva na qual todas aquelas que participaram se envolveram emocionalmente lembrando de histórias reais e lutas feministas de outras pessoas e gerações. Neste caso o viés político da performance atravessou barreiras nacionais e internacionais e trouxe um diálogo emotivo contundente, potencializando-se mais ainda a partir do poder comunicativo da música que, conforme entrevistados, gera: “expansão do corpo e dos afetos”; ”a música nos transforma em pessoas mais sensíveis”; “nos dá alegria de viver, vendo gente animada para descontrair um pouco a nossa situação e do país, só assim para a gente ter força e transformar”.
Ocupando novos espaços e ritmos da cidade
A escolha dos locais e dos grupos parceiros são importantes para a construção de pontes e ações sociais continuadas e junto a isso vem surgindo uma necessidade de descentralizar espacialmente a atuação das fanfarras na cidade como parte do ativismo do festival. Nessa seção, cabe evocar as possibilidades que explora o Honk! Rio para expandir suas ações pela cidade e alcançar novos públicos.
Em 2017, surgiram os Ataques Honk!, como uma necessidade de realizar ações que vão além dos dias do festival: vão preparando e conectando o Honk! Rio com a cidade. Um dos objetivos do Ataques é realizar atividades que possam ajudar a criar vínculos ao longo do ano com determinados grupos, movimentos sociais e espaços públicos, que o Honk! Rio pretende apoiar e ocupar durante os dias do festival. Em 2018, houve dois ataques desse tipo: um aconteceu na Praça da Harmonia, na Zona Portuária, em via de gentrificação, onde o Honk! Rio já atuou e tem alguns parceiros identificados. Antes mesmo de duas fanfarras tocarem, houve uma roda de conversa com atores históricos do bairro, acerca da história e das mudanças do bairro. O segundo Ataque aconteceu na frente da Câmara dos Deputados, na Cinelândia, lugar político importante para a cidade do Rio de Janeiro e que o Honk! Rio vem ocupando desde 2016 com a abertura do festival. Neste mesmo dia estava previsto um evento no local chamado “23 Motivos para Apoiar os 23”, um ato político que vem ocorrendo periodicamente e é composto por debates acerca do mandado de prisão de 23 manifestantes dos protestos de 2013, em defesa da liberdade dos manifestantes e do direito à manifestação sem correr o risco da criminalização atos e protestos. Esse coletivo luta por uma efetiva democracia participativa e direta, realizando reuniões e discussões em locais públicos para dar visibilidade às discussões e possibilitar a participação de quaisquer transeuntes. A união dos eventos foi intencional e previamente organizada assim como o primeiro Ataque na praça da Harmonia. Uma ideia central dos Ataques é: construir parcerias, dar visibilidade ao debate e lutas sociais, bem como associar as ações pré festival com atividades políticas sociais que sejam transversais aos temas e ações à ocupação do espaço público. Com isso, os Ataques do Honk, além de divulgar o festival, ajudam nos engajamentos sociais do festival com a cidade.
Na escolha dos lugares de atuação durante o festival deste ano, o maior debate foi sobre a decisão de transferir o dia de domingo: nas edições anteriores, tinha acontecido na beira da praia, na Zona Sul da cidade, mas este ano foi para o Parque Quinta da Boa Vista, pulmão verde e lugar histórico da cidade, onde costuma frequentar um público mais diverso e popular. Essa mudança suscitou um certo entusiasmo e ótimos retornos por parte dos músicos e do público, permitindo ao festival investir um novo espaço e tornar mais convivial esse dia, já que o ambiente do parque se mostrou mais favorável às trocas entre músicos e deixou o público transeunte à vontade para escolher um espaço e descobrir as fanfarras.
Todavia a expansão para novos locais também levanta dificuldades: em particular, a logística para levar fanfarras para certos lugares não é necessariamente tão fácil de articular. Em 2017, ir para o bairro distante de Campo Grande, onde atua a fanfarra Crispy, participante do Honk! Rio, foi uma experiência ímpar. Porém, segundo uma das organizadoras, a ida e volta em trens superlotados não foi necessariamente fácil de vivenciar para certos membros das fanfarras participantes, com instrumentos volumosos. São detalhes aos quais se atenta sempre mais e fica complexo de resolver todos os detalhes para se afastar de áreas mais acessíveis da cidade, desde esse ponto central de atuação. Neste ano, o cortejo previsto no sábado numa favela do Morro do Alemão não aconteceu, por causa de boatos de ações de forças de segurança do Estado. A ação foi cancelada de última hora, o que foi lamentado por vários participantes do Honk! Rio e, sobretudo, pelos parceiros locais.
Conforme entrevistas com moradores dos locais de apresentação em áreas residenciais (especialmente na Tijuca, bairro de classe média, e no Morro da Providências, bairro popular), a maioria dos moradores não conhecia o festival e tão pouco tinham conhecimento das fanfarras. Como evoca um frequentador das fanfarras que as segue a partir de suas atuações no carnaval: “O Honk precisa furar a bolha do carnaval”. Isto é, alargar a base do público já fiel, que conhece as fanfarras através da sua atuação no carnaval.
As possibilidades de ruptura dos ritmos da cidade decorre também da modalidade ambulatória das fanfarras. No contexto do Rio, se concretiza através dos cortejos que atravessam ruas e praças da cidade, sem aviso prévio dos moradores e das autoridades, momentos muito destacados pelas fanfarras estrangeiras que participam do Honk ! Rio. Os cortejos permeiaram a programação do Honk! Rio 2018, com cinco cortejos dentro da programação, com nove fanfarras. Os cortejos são um dos momentos mais esperados pelo público e músicos. Em vários momentos que vai chegando o fim das apresentações, ouvem-se os gritos: “cortejo, cortejo”. A modalidade do cortejo remete bastante ao carnaval carioca e a atuação de vários blocos provindo de várias fanfarras brasileiras que participam do Honk! Rio.
O interessante dos cortejos é que sai do planejado, se submete à múltiplos imprevistos. Alguns testemunham de gostar de se “sentir perdido”, de “se deixar levar pelas fanfarras”. Somente àqueles a frente ou a par do festival sabem por onde estão indo, outros podem ser surpresos do destino. Alguns interagem, outros sorriem, tiram fotos, comentam entre si. Existe a preocupação com o trânsito dos carros nas ruas que percorre o cortejo nesses momentos, sempre há pessoas que ajudam os voluntários do festival a criar um corredor para os carros passarem. Para aqueles que prestigiam o carnaval de rua do Rio de Janeiro, há muitas semelhanças. As pessoas sentam no chão para descansar, se emocionam e dançam perto das fanfarras, certos vendedores ambulantes pegam ruas paralelas para ficar no melhor lugar no momento certo, à frente da passagem das fanfarras, para vender melhor cervejas aos participantes do cortejo. No caso do cortejo que aconteceu no Morro da Providência, os moradores mal se juntaram ao cortejo, sendo meio que desprevenidos, mas aclamavam muito o ocorrido. O fator surpresa e o ambiente criado pelas fanfarras levantava muitos risos, exclamações, algumas danças e muitas filmagens por celular.
Os cortejos são claros exemplos de rupturas nos ritmos rotineiros da cidade (Lefebvre, 1992; Edensor, 2010). Nesses momentos, existem várias indeterminações e vigora muita efervescência e emoções diversas. Há quase ausência, ou presença muito discreta da polícia, deixando a multidão na capacidade de gerenciar toda essa emoção que transborda e opera uma mudança de ritmo nos corpos e nas ruas percorridas. Opera-se uma interação com um maior público, embora muitas pessoas que cruzam o percurso o cuja moradia está ao longo do percurso, sejam desavisadas previamente. Essa fluidez do cortejo multiplica as possibilidades de interação e de envolvimento entre os corpos e a cidade. A efervescência decorrente dessa movimentação, junto com a dimensão sonora do cortejo, afeta e deixa lembranças que impacta o imaginário da cidade, o que já sobressai pelo sucesso dessa modalidade e a maneira como se constitui como vivẽncia singular para os participantes e é fotografado e saudado pelas pessoas que apenas assistem ao cortejo da sua janela. Trata-se ainda de um desafio permanente para os organizadores, em relação ao trânsito, à limpeza. que fomenta solidariedades e cuidado, mobilizando a contribuição de vários voluntários “espontâneos” durante o cortejo.
Apontamentos conclusivos
O festival Honk! Rio visto como um ritual urbano, que vem ocorrendo ciclicamente e a cada ano atraindo mais pessoas, nos possibilitou perceber rupturas cotidianas e novas formas de sentir e agir nos espaços urbanos. Procuramos tratar esta abordagem a partir das mudanças na organização, nas performances, na ocupação espacial e nos sentimentos em torno de participar e realizar o festival que observamos ao longo de 4 edições do Honk! Rio. É notável o crescimento do festival na cidade e sua influência para o surgimento de novas fanfarras e da realização do festival em outras cidades do Brasil. O surgimento crescente de novas fanfarras cariocas e a grande procura de inscrição e participação no festival Honk! Rio vêm atribuindo um valor especial e ímpar ao festival, se tornando um momento esperado para muitas bandas que se preparam de maneira diferenciada, trazendo repertório e performances novas.
Como procuramos analisar, o festival se particulariza em cada novo contexto social. Dentro desse contexto, a dimensão afetiva e de pertencimento do Honk! Rio é um retrato que espelha tanto a cultura carnavalesca e de rua carioca, quanto a importância de fazer parte de um movimento maior que neste caso vai além do espaço físico e cultural da localidade: o movimento internacional, musical e de ativismo que são os festivais Honk (s). Junto a dimensão afetiva comunitária, procuramos mostrar como o questionamento do ativismo social vem se destacando e gerando debates e transformações na organização e atuação das fanfarras participantes. O ano de 2018 foi expressivo neste sentido e trouxe para dentro das apresentações e rodas de conversas a participação feminina e de outros grupos minoritários, bem como a forma de ocupar os espaços e de interação os grupos locais. De forma geral, percebe-se que o festival não é um formato fechado, mas aberto e vivo, em diálogo com mudanças e questões sociais nas quais a cidade e o Brasil, como um todo passou e vem passando.
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[1] A base da pesquisa provém de um trabalho de campo acompanhando a preparação, realização e o pós-festival do Honk! Rio 2018, sem deixar de estabelecer comparações com as experiências dos anos anteriores (2015, 2016 e 2017), das quais também participamos como músicos, além das vivências no Honk Boston, Pronk e Honk NY (em 2013) e Honk Texas (em 2017). Foram realizadas observações, conversas e entrevistas - formais e informais - com os produtores, músicos e participantes. Preparamos um questionário base para as entrevistas e realizamos também um formulário on line que nos possibilitou entrevistar e gerar dados após o festival, sobretudo com os músicos e produtores, tendo em vista o cronograma intenso de apresentações das bandas durante o Honk! Rio.
[2] Foi estabelecido o número máximo de grupos participantes e um dos critérios de seleção para grupos novos foi a combinação entre qualidade musical e ações sociais que realizam. Das trinta fanfarras da programação, vinte e uma do Rio de Janeiro, sete vinham de três outras cidades do Brasil (três de São Paulo, duas de Belo Horizonte e duas de Brasília) e duas da França.
Bloka – Abertura do Honk! Rio 2018 - Praça Cinelândia, 15 Novembro. Crédito: PH Noronha
uma análise sobre ativismo, efervescência e ritmo no Honk Rio!
Michel Moreaux and Maria Cláudia M. M. Pitrez
Translated English version
Introdução
A ocupação e transformação espacial da cidade é uma característica marcante dos festivais Honk! que, junto às músicas e performances de diferentes grupos, também celebram arte e política de forma peculiar. Estar tocando nas ruas e praças também é uma forma de repensar e refazer os espaços citadinos, bem como restabelecer novas trocas e relações sociais. O objeto de estudo deste trabalho traz algumas análises nesta direção ao se aproximar das performances e apresentações do Honk Rio!. O festival acontece na cidade do Rio de Janeiro desde 2015 e é um dos exemplos do crescimento e expansão dos festivais Honk(s) que foram rompendo as fronteiras do seu país sede (EUA), ganhando novos territórios em outros países.
Esse panorama de expansão dos festivais para além do contexto americano e a intensificação de encontros anuais vem contribuindo para inúmeras trocas entre os participantes como estilos de performances e musicais, planos de organizações e, sobretudo, na propagação de um sentimento comunal e de pertencimento de ser Honk, um jeito e “ethos” Honk: ser colaborativo, ocupar espaços públicos e escolas, levar diversão e reflexão política. Isto ficou claro para nós ao acompanhar a criação do Honk! Rio em comparação com outros Honk (s) nos EUAs que participamos, bem como a criação do Honk São Paulo e de Brasília. Percebe-se que, por um lado, há uma tentativa de manter de forma respeitosa a premissa do festival em ser colaborativo e sem fins lucrativos, de fortalecer o “ethos” Honk, enquanto, por outro lado, nota-se também diferenças e particularizações que cada nova cultura e espaço engendram. Cada cidade e seus conjuntos de ritmos normativos e contra-normativos (LEFEBVRE, 1992; STAVRIDES, 2016) vão compor um cenário distinto e a forma de ocupar as ruas com performances durante o festival vai consequentemente variar em cada local.
A partir da base de pesquisa de campo[1] observamos inúmeros relatos sobre um estado emocional alterado durante o Honk! Rio, sobretudo dos músicos e organizadores que destacaram o fortalecimento de laços comunais e de efervescência. Essa base empírica nos levou a refletir o festival como um ritual urbano musical que proporciona um break no cotidiano e estabelece uma outra perspectiva emocional, no sentido atribuído pela noção de communitas (TURNER, 1978), e outra dimensão espaço-temporal onde locais rotineiramente situados em zonas de trabalho se transformam em palcos e as ruas em verdadeiros cortejos de pessoas .
Diante disso, alguns questionamentos mais gerais e outros mais particulares surgiram, tais como: a criação de um movimento musical de rua que vem se conectando e se fortalecendo, formando um tipo de rede comunitária internacional, onde o encontro presencial é uma das bases para fomentar trocas, afetividades e efervescências e outros ritmos no cotidiano urbano; e como esse festival se particulariza no Rio de Janeiro, considerando o contexto carioca de carnaval de rua, neo-fanfarrismo e transformações urbanas sociais. Como questionamento central tomamos a seguinte pergunta: em que medida o festival Honk Rio transforma efemeramente as emoções dos participantes e os ritmos da cidade? Podemos pensar numa suspensão momentânea do tempo, que transforma as emoções dos participantes e tende a se configurar como uma ruptura dos ritmos da cidade?
Resolvemos organizar as análises do festival agrupando-as por temáticas das quais consideramos importantes para compor o cenário reflexivo proposto sobre entre ritual urbano, música, ativismo social, ritmo e efervescência de modo a destacar algumas transformações do Honk! Rio ao longo de 4 edições, bem como as percepções e emoções dos envolvidos durante os cinco dias do festival em 2018. Com isso, o texto ficou composto por 4 pontos - ritos e ritmos urbanos: ruptura, efervescência e communitas; música de rua e ativismo social; tempo de política, arte e feminismo; ocupação de novos espaços e ritmos da cidade - e uma parte conclusiva que assinala alguns apontamentos gerais que surgiram durante a pesquisa, deixando também contribuições para novas pesquisas sobre o movimento Honk dentro e fora do Brasil.
Ritos e ritmos urbanos: ruptura, efervescência e communitas
O ritmo é um conceito analitico e metodológico de Lefebvre (1992) para identificar uma complexidade de movimentos e dinâmicas que coexistem e atuam num determinado tempo e espaço. Todavia, embora a ideia de ritmo esteja ligada à repetição, isso não compromete em um resultado igual e repetitivo, sem possibilidades de mudanças, descobertas e inovações, pois para Lefebvre a repetição também é reveladora de diferenças. Assim, a ritmanálise, que se baseia sobre uma crítica da vida cotidiana, é fundada numa ótica de transformação, abordando a dimensão relacional do espaço e enxergando processos de continuidades e descontinuidades nos tempos sociais.
Tanto os ritmos quanto os ritos ajudam a demarcar a vida social em momentos ordinários e extraordinários. Associando esses dois conceitos, estamos pensando num bordejar dialético que contempla distintas dinâmicas sociais e ritimicidades. No caso dos rituais, podemos notar como eles provocam interrupções na vida rotineira, dando lugar a um novo enquadramento social, emocional, criativo e de efervescência. É uma forma de ruptura com potencial transformador, um fato extraordinário com relevâncias e eficácias simbólicas para a vida em comunidade. Mariot (2001) mostra como Durkheim associa a efervescência como especificamente relacionada com a ação ritual em si, a festa tendo um papel primordial (declencheur) para esse “estado de exaltação” que transporta o homem “fora de si, distraído das suas ocupações e preocupações ordinárias”(MARIOT, 2001, p.714). O rito aparece eficiente para quem participa dele e os participantes aderem ao rito pelo contágio da intensidade emocional na qual acabam sendo envolvidos.
Nas entrevistas realizadas com os músicos podemos perceber inúmeros exemplos que falam sobre uma alteração emotiva durante o Honk! Rio, provocando um estado de união entre os músicos e participantes: “o Honk cria um sentimento colaborativo e uma vontade de seguir atuando nas ruas com arte” ; “traz principalmente prazer em tocar. E esse prazer parece contagiar todos os envolvidos, tanto músicos como ouvintes”.; “não estamos isolados em nossas cidades. Existe um sentimento que é coletivo em torno de uma mesma coisa. Isso é muito bom”; “o Honk me emociona muito, sinto muito amor por todos os músicos e pessoas que trabalharam para dar certo, para o evento acontecer. Às vezes no meio do festival, eu paro e observo as pessoas, e são tantas pessoas felizes nesse momento, mesmo com a política caótica, a vida sendo vida... Isso me faz acreditar em um mundo melhor”.
Considerando as falas acima, percebemos como existem diferentes possibilidades de romper determinados ritmos do cotidiano durante os cinco dias de festival e como isso contribui para gerar estados emotivos alterados, algo de subversão no qual pode-se “acreditar em um mundo melhor”. A partir desse potencial de mudança e de efervescência social podemos dialogar também com as perspectivas desenvolvidas por Victor Turner e o conceito de communitas relacionado à noção de liminaridade. O autor define a noção de liminaridade como um momento de margem, uma espécie de processo transitório, uma fase onde inaugura-se uma nova configuração com a existência de uma antiestrutura, um estado de communitas que rompe com a ordem “natural” da sociedade. Richard Schechner (2002) argumenta que toda a arte performada tem um caráter aberto e processual, de algo que está sendo feito através de jogos de ensaios e improvisos. E é essa processualidade e liminaridade, onde algo pode dar certo ou não, que gera um poder comunicativo envolvente, baseado em empatia, emoção e comunhão.
Para Stavrides (2016), existem determinadas performances e práticas rotineiras que podem instituir descontinuidades nos espaços públicos, instaurando outros ritmos e novas possibilidades de ser afetado: isso pode ocorrer de forma imediata ou mesmo depois de um tempo, através da memória coletiva compartilhada. O autor coloca uma questão que é interessante referente a até que ponto “o espaço da cidade pode expressar e fomentar práticas e valores distintos ou até opostos aos dominantes” (idem, p.31).
Esse questionamento nos atentou para verificarmos mais de perto como a ruptura ocorre o Honk! Rio. Todavia, a partir das leituras do antropólogo brasileiro Roberto da Matta (1997), que analisou diferentes rituais - tais como, procissão religiosa, parada militar e o carnaval - percebe-se que embora os rituais ou as performances dialoguem e até mesmo reforcem valores dominantes, elas não deixam de estabelecer uma áurea e colorido especial, com eficácia simbólica e efervescência para seus participantes. Seja através de rituais que reforçam ou invertem valores dominantes, existe um novo estado emocional, um sentimento comunal que fortalece os indivíduos. Assim, para Da Matta, seguindo uma perspectiva baseada em Turner, o rompimento do cotidiano com novos ritmos e sentimentos oriundos de um ritual ou performance não resulta apenas de ritos que rompem valores sociais opostos aos dominantes. O próprio ritual já é um momento especial que já instaura um novo tempo e espaço. No caso do Honk! Rio percebemos algumas rupturas espaciais e emocionais que ora reforçam valores dominantes e ora criticam e vão contra determinados status. No caso de 2018, o feminismo teve grande papel de crítica social e de romper determinados padrões nas fanfarras, em sua maioria composta de homens.
Música, rua e ativismo social
A programação do Honk! 2018 foi intensa e realizada durante 5 dias ininterruptos, de quarta-feira até domingo, 14 ao 19 de novembro. Neste ano, os organizadores escolheram programar o Honk! Rio junto ao feriado (quinta-feira dia 15), fato que permitiu agregar mais público, especialmente de passeio e turismo pelo centro da cidade, além de também facilitar a participação das fanfarras vindo de outras cidades do Brasil, já que muitos músicos têm emprego formal. Para montar a programação do Honk! Rio vários encaixes complexos são levados em conta pelos organizadores, que procuram associar horários disponíveis de todas as fanfarras, locais de apresentações e proposta performática. Como apontou uma das organizadoras, existe um cuidado na seleção entre as fanfarras de acordo com estilo musical e temáticas performáticas (formato bloco ou banda, circo, feminismo e dentre outras) para criar um clima musical que não traga muitas rupturas ou mesmo fique muito repetitivo. Assim, foram ao todo sessenta e cinco apresentações agendadas ao longo dos cinco dias de programação; cinco cortejos envolvendo nove fanfarras; cinco oficinas (palhaçaria aplicada à fanfarra e dinâmicas de composição coletiva); uma sessão de três rodas de conversa (que aconteceu na quarta-feira); além dos momentos após a programação, que muitas vezes deixam os músicos tocar até o sol raiar.
De forma geral, o quantitativo de bandas do Honk! Rio que participam vem crescendo e pela primeira vez, foram recusadas algumas fanfarras para não ultrapassar o quantitativo de trinta bandas na programação[2]. Dentro desse volume crescente de fanfarras brasileiras, é notável o “boom” de fanfarras da cidade do Rio de Janeiro. No primeiro Honk! Rio, em 2015, a programação já contou com 16 grupos cariocas, um quantitativo expressivo se compararmos com outros festivais Honk (s), onde observa-se um número de 1 a 3 fanfarras oriundas da localidade do festival. Como bem apontou Snyder (2018), este número elevado e crescente de fanfarras está atrelado ao contexto musical de rua da cidade carioca, uma primeira particularidade e contextualização do Honk! Rio.
Desde os anos 2000, verifica-se um crescimento expressivo do carnaval de rua, Herschmann (2013) chama esta fase de o “boom” do carnaval de rua, com o surgimento de novos grupos e diversas oficinas de musicalização dos blocos espalhados pela zona sul e central da cidade. Como destaca Barros (2013) no carnaval de 2010, foram registrados 465 blocos que levaram quase 5 milhões de pessoas às ruas da cidade. Este panorama carnavalesco efervescente vem renovando o cenário musical e a ocupação urbana e artística, com o surgimento de novos agentes (FRYDBERG, 2017) e disputas em torno do espaço público e do direito à cidade (SAPIA, 2016).
Em conversa com uma musicista americana e organizadora do Honk Texas, que já morou no Rio de Janeiro e participou de diferentes Honk (s) nos Estados Unidos, ela comenta que uma grande diferença perceptível do Honk! Rio é a formação de um circuito musical de rua, tanto de músicos e de plateia, que a cultura carnavalesca ajudou a fomentar. Como comenta a entrevista, a cidade do Rio de Janeiro já sabe fazer um festa de rua:"
O Rio tem uma cultura tão grande de blocos com o carnaval, com música de rua e platéia. Nos EUA, bandas de estilo honk ainda são muito raras, incomuns, e a maioria das pessoas nunca viu uma. Então todo show no Rio tem bastante público e a cidade já sabe como funciona; a cidade sabe fazer uma festa na rua tanto em relação aos músicos, vendedores e a plateia. Nos EUA, não temos carnaval (exceto Nova Orleans) e as pessoas não estão acostumadas com música de rua, grandes bandas ou shows fora de bares ou teatros. O público não sabe o que fazer. (D. musicista e organizadora do Honk Texas)
É com este pano de fundo, conectado ao carnaval e aos blocos, que o movimento de fanfarras ou neo-fanfarrismo surge em terras cariocas e se associa aos festivais Honk(s). No entanto, a mesma influência carnavalesca no Honk! Rio também traz alguns questionamentos que vem repercutindo nas transformações do festival. Se por um lado o carnaval carioca favorece uma rápida e festiva ocupação das ruas, ele também “carnavaliza” o festival, confundindo-o e retirando alguns elementos centrais em torno das ações ativistas e engajadas que são preconizadas nos festivais Honk(s). Se em alguns Honk(s) o fato de estar na rua ocupando-a e tocando já é um ato de ativismo por instaurar novas ritimicidades ao contexto urbano, no caso do Rio de Janeiro, considerando a sua forte cultura de festa e música na rua, esse componente não se apresenta suficiente; fato que vem trazendo inúmeros questionamentos e mudanças no Honk! Rio:
Esse movimento de fanfarra, que é bem próximo e surgiu coligado ao carnaval, traz um desafio que é o de distanciar o festival de determinados estereótipos e comportamentos que o carnaval instaura de loucura total e subversão das regras! Será que toda intervenção na rua de música tem que se transformar num carnaval? É um pensamento que a gente tem e que tentamos ver o jeito de desvencilhar de algumas loucuras total e pensar no espaço, na limpeza, nas pessoas que vão assistir e como podemos manter um vínculo o ano todo com esses locais. (L., organizadora)
Este desafio frente à aproximação de um “ethos carnavalesco” da cidade carioca surgiu também em diferentes falas de entrevistados que não foram oriundas apenas de organizadores (como a frase acima), mas de músicos e o público em geral. De acordo com Snyder (2018), que estudou o movimento de fanfarras do Rio de Janeiro e participou da produção do primeiro Honk! Rio, o ativismo social está se dando de forma processual dentro deste contexto. O autor considera que, aos poucos, a consciência individual e, sobretudo, coletiva, vem surgindo e trazendo novos porquês e responsabilidades em torno do ato de tocar nas ruas e de se fazer um festival que tem como base o ativismo. Essa consciência processual se confirma ao longo desses 4 anos onde se percebe tanto uma maior relação e influência com bandas de dentro e fora do Brasil que participam de outros Honk (s), bem como com outros grupos, artistas de rua e movimentos culturais que atuam nos espaços públicos e periféricos da cidade. O debate em torno do conceito de ativismo atrelado ao nome do festival Honk, que surgiu desde o primeiro ano de realização (2015), é um exemplo disso pois sofreu reelaboração lexical ao longo das edições: de “festival de fanfarras engajadas”, em 2015 e 2016, passou a se definir como “festival de fanfarras ativistas”, em 2017, até “festival ativista de fanfarras” em 2018. Isso retrata o cuidado e os debates que cercam, entre organizadores e músicos, essa efetivação do Honk! Rio nas ruas e praças da cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com a organizadora do Honk Texas:
Eu acho que Honk! Rio é mais político do que Honk Texas, mais ativista. Provavelmente uma função da confortável bolha que os americanos vivem. Fiquei especialmente impressionado com o Honk! Rio realizando eventos em espaços que talvez sejam mais perigosos, como forma de reintegrá-los, recuperá-los. Esse é realmente um aspecto poderoso e legal do Honk! Rio. Também tentamos atravessar alguns desses limites indo às escolas dos bairros mais pobres aqui no Texas. Mas acho que é mais profundo e mais crítico no Rio, pois Boston, Seattle e Austin, por exemplo, são cidades bastante ricas e calmas. Eu acho que o Honk! Rio assume mais riscos em termos de ocupação do espaço de performance. Eu acho que é muito mais forte dessa maneira.
O comentário acima nos apresenta um olhar estrangeiro e de quem participa de outros Honk (s). Para ela a própria cultura de música de rua e do carnaval já é um ato político de ocupação da cidade e do espaço público. Como comenta, ao comparar com outras cidades do Honk nos EUA, o Honk! Rio ganha uma perspectiva ainda mais política no sentido de ser um festival de rua no meio do centro de uma cidade grande e intensa, com conflitos e desigualdades sociais, bem como por procurar integrar novos locais a cada ano. Esse posicionamento é interessante como comparativo ao passo que assinala como a questão do ativismo social é uma relativa ao espaço sociocultural no qual o festival acontece. Como pudemos observar ao longo de 4 anos de festival, essa temática se tornou um debate tanto para organizadores quanto para músicos e que a cada ano vem provocando mudanças, rupturas e inovações. Os ataques Honks, que são ações sociais e musicais ao longo do ano, em parceria com determinados grupos urbanos situados em áreas que o festival pretende atuar, já é um grande exemplo disso (abordaremos mais à frente esses ponto). Outro exemplo dessas transformações foi a ação feminista que marcou o Honk! Rio 2018, vejamos um pouco mais.
Tempo de política, arte e feminismo
O processo de elaboração e realização Honk! Rio (desde a ideia pioneira surgida com Os Siderais em 2013) inicia-se diante de uma situação política, econômica e social do Brasil conturbada, com intensas manifestações que iniciaram com os movimentos de Junho de 2013 e que se estenderam com a realização dos grandes eventos esportivos (Copa do Mundo, em 2014, e Olimpíadas, em 2016), com o impeachment da presidente, em 2016, e o movimento Ele Não frente à candidatura do Bolsonaro,ambos em 2018. No cenário da cidade do Rio de Janeiro esse quadro intenso se somou à crise e quebra do governo do Estado, em 2016 e 2017, bem como com a eleição de um prefeito assumidamente religioso, que se posiciona de forma contrária às manifestações populares e musicais nas ruas. Todo esse contexto no qual surge o Honk! Rio trouxe inúmeros reflexos para dentro do festival dentre os quais muitos estão associadas aos questionamentos quanto o que seria o ativismo dentro das performance das fanfarras e na ocupação dos espaços públicos que o festival realiza.
O Honk de 2018 apresentou algumas performances expressamente políticas especialmente relacionadas ao empoderamento feminino. Notadamente esse ano foi um momento conturbado em decorrência do assassinato brutal da vereadora Marielle em março e das eleições presidenciais em outubro de 2018. Como argumentam Palmeiras e Heredia (1995), nesses períodos inaugura-se um tempo maior, o “tempo de política”, que tal como um fato social total, no sentido maussiano, nos deparamos com a maioria das relações do cotidiano sendo regida por um conjunto de práticas e valores correspondentes ao ano eleitoral. Nesta direção o Honk 2018 foi atravessado por essa temporalidade e pôde-se perceber diferentes formas de expressão. De acordo com uma das participantes e idealizadoras: “A Bloka foi um grupo criado para o Honk com objetivo de dar visibilidade para as mulheres que, apesar de um quantitativo cada vez mais crescente, ainda são minoria nesse movimento de fanfarras e com pouco visibilidade. Muitas tocam nos blocos das fanfarras, mas nas bandas não! É um bloco feminista que trouxe no seu repertório músicas protesto.”
A visibilidade da mulher em diferentes campos de ação foi destaque não apenas no Bloka, mas também na própria organização do festival, que contou majoritariamente por um time feminino, como também na formação de outras duas fanfarras. O contingente de mulheres tocando e atuando vem chamando atenção e o Bloka foi a culminância desse movimento, agregando mais de 60 participantes tocando e andando na perna de pau. O grande número de participantes do Bloka logo chamou a atenção do público e ganhou unidade com as cores - verdes e preta - e a camiseta que foi feita por uma integrante com um desenho simbolizando luta e feminismo junto com as letras do nome. O protesto foi realizado tanto em seus corpos descobertos e cobertos como também nas músicas escolhidas para compor o repertório, com as letras modificadas para trazer mensagens sobre as lutas das mulheres, desafios e conquistas. O efeito performático do figurino, das letras e perna de pau, além no quantitativo de mulheres reunidas ecoou e contagiou o público. Segundo relatos, a emoção foi impactante, muitas pessoas choraram e “vibram” juntas: “o Bloka na abertura do festival, com repertório e participação do Slam das Minas, foi um manifesto feminista necessário e muito emocionante”; “BLoka na Cinelândia foi lindo, muita mulher foda querendo gritar, cantar, tocar e vibrar juntas”; “achei que a Bloka fez um trabalho fantástico trazendo mulheres artistas de rua para compartilhar seu trabalho e promover uma reflexão feminista”.
A fanfarra mineira Sagrada Profana, que tem ampla atuação artística e política em Belo Horizonte, também realizou performance políticas durante o Honk! Rio. O público participou cantando as letras das músicas, se aproximando das meninas que fizeram para cada música uma performance diferenciada. Algumas músicas foram cantadas e também modificaram partes de letras trazendo questionamentos sobre o controle e regras heteronormativas ao corpo feminino. O próprio nome Sagrada Profana é um brincadeira quanto ao estigma social do papel da mulher entre santa (Sagrada) e puta (profana).
Nas entrevistas com o público em geral ouvimos muitas pessoas comentando que ficaram fascinadas com a sonoridade da banda que dava para ouvir as flautas e os clarinetes. Pudemos conversamos com mulheres de faixa etária diferentes e percebemos como o impacto atravessou gerações. Uma senhora de 70 anos que estava passando na Praça Saens Peña na Tijuca ficou ficou emocionada com a apresentação delas e foi buscar a irmã mais velha em casa para ir vê-las na praça: “gostei muito dessas meninas, da interação com o público, o repertório, o figurino, a execução musical e coreografias. Elas têm uma garra e suavidade, estão seguras ao tocar. E me emocionei muito quando gritaram Mariele Presente porque foi minha vereadora”.
A fanfarra francesa Les Muses Tangent foi mencionada diversas vezes pelos entrevistados - músicos e público em geral - como uma banda impactante. A fanfarra composta por 20 francesas traziam em sua performance suavidade e força ao mesmo tempo. Os arranjos com aberturas de vozes nos instrumentos de metais e grande presença do bombardino, instrumento que não é muito usado nas fanfarras brasileiras, gerou uma curiosidade. O arranjo melódico e a pressão da percussionista ao tocar o bumbo emocionaram os participantes que ficavam ao redor gritando e interagindo com o repertório festivo e dançante. O fato de ser uma fanfarra internacional também gerou um tipo de expectativa e o retorno do público contagiado pela pulsação francesa foi bem expressivo
Cada fanfarra de mulheres apresentou uma performance bem distinta. Diferente das outras bandas feministas na qual o público participou de forma mais atenta às mensagens e atos políticos cantados e exibidos nos seus corpos, a fanfarra francesa trouxe um embalo pulsante e rítmico, onde o corpo e a presença feminina trouxeram o recado somente pelo som. O público se manifestou alegre e dançante, agregando-se ao redor das francesas com entusiasmo. Todavia, todas as 3 fanfarras de mulheres foram representativas e destaques como ficou evidente nas entrevistas com o público em geral e músicos. A combinação entre performance musical com viés político favoreceu o acesso a um dispositivo de envolvimento e emoção do contexto sociopolítico atual. Temos um imbricamento entre performance musical e política que nos leva para uma ação coletiva na qual todas aquelas que participaram se envolveram emocionalmente lembrando de histórias reais e lutas feministas de outras pessoas e gerações. Neste caso o viés político da performance atravessou barreiras nacionais e internacionais e trouxe um diálogo emotivo contundente, potencializando-se mais ainda a partir do poder comunicativo da música que, conforme entrevistados, gera: “expansão do corpo e dos afetos”; ”a música nos transforma em pessoas mais sensíveis”; “nos dá alegria de viver, vendo gente animada para descontrair um pouco a nossa situação e do país, só assim para a gente ter força e transformar”.
Ocupando novos espaços e ritmos da cidade
A escolha dos locais e dos grupos parceiros são importantes para a construção de pontes e ações sociais continuadas e junto a isso vem surgindo uma necessidade de descentralizar espacialmente a atuação das fanfarras na cidade como parte do ativismo do festival. Nessa seção, cabe evocar as possibilidades que explora o Honk! Rio para expandir suas ações pela cidade e alcançar novos públicos.
Em 2017, surgiram os Ataques Honk!, como uma necessidade de realizar ações que vão além dos dias do festival: vão preparando e conectando o Honk! Rio com a cidade. Um dos objetivos do Ataques é realizar atividades que possam ajudar a criar vínculos ao longo do ano com determinados grupos, movimentos sociais e espaços públicos, que o Honk! Rio pretende apoiar e ocupar durante os dias do festival. Em 2018, houve dois ataques desse tipo: um aconteceu na Praça da Harmonia, na Zona Portuária, em via de gentrificação, onde o Honk! Rio já atuou e tem alguns parceiros identificados. Antes mesmo de duas fanfarras tocarem, houve uma roda de conversa com atores históricos do bairro, acerca da história e das mudanças do bairro. O segundo Ataque aconteceu na frente da Câmara dos Deputados, na Cinelândia, lugar político importante para a cidade do Rio de Janeiro e que o Honk! Rio vem ocupando desde 2016 com a abertura do festival. Neste mesmo dia estava previsto um evento no local chamado “23 Motivos para Apoiar os 23”, um ato político que vem ocorrendo periodicamente e é composto por debates acerca do mandado de prisão de 23 manifestantes dos protestos de 2013, em defesa da liberdade dos manifestantes e do direito à manifestação sem correr o risco da criminalização atos e protestos. Esse coletivo luta por uma efetiva democracia participativa e direta, realizando reuniões e discussões em locais públicos para dar visibilidade às discussões e possibilitar a participação de quaisquer transeuntes. A união dos eventos foi intencional e previamente organizada assim como o primeiro Ataque na praça da Harmonia. Uma ideia central dos Ataques é: construir parcerias, dar visibilidade ao debate e lutas sociais, bem como associar as ações pré festival com atividades políticas sociais que sejam transversais aos temas e ações à ocupação do espaço público. Com isso, os Ataques do Honk, além de divulgar o festival, ajudam nos engajamentos sociais do festival com a cidade.
Na escolha dos lugares de atuação durante o festival deste ano, o maior debate foi sobre a decisão de transferir o dia de domingo: nas edições anteriores, tinha acontecido na beira da praia, na Zona Sul da cidade, mas este ano foi para o Parque Quinta da Boa Vista, pulmão verde e lugar histórico da cidade, onde costuma frequentar um público mais diverso e popular. Essa mudança suscitou um certo entusiasmo e ótimos retornos por parte dos músicos e do público, permitindo ao festival investir um novo espaço e tornar mais convivial esse dia, já que o ambiente do parque se mostrou mais favorável às trocas entre músicos e deixou o público transeunte à vontade para escolher um espaço e descobrir as fanfarras.
Todavia a expansão para novos locais também levanta dificuldades: em particular, a logística para levar fanfarras para certos lugares não é necessariamente tão fácil de articular. Em 2017, ir para o bairro distante de Campo Grande, onde atua a fanfarra Crispy, participante do Honk! Rio, foi uma experiência ímpar. Porém, segundo uma das organizadoras, a ida e volta em trens superlotados não foi necessariamente fácil de vivenciar para certos membros das fanfarras participantes, com instrumentos volumosos. São detalhes aos quais se atenta sempre mais e fica complexo de resolver todos os detalhes para se afastar de áreas mais acessíveis da cidade, desde esse ponto central de atuação. Neste ano, o cortejo previsto no sábado numa favela do Morro do Alemão não aconteceu, por causa de boatos de ações de forças de segurança do Estado. A ação foi cancelada de última hora, o que foi lamentado por vários participantes do Honk! Rio e, sobretudo, pelos parceiros locais.
Conforme entrevistas com moradores dos locais de apresentação em áreas residenciais (especialmente na Tijuca, bairro de classe média, e no Morro da Providências, bairro popular), a maioria dos moradores não conhecia o festival e tão pouco tinham conhecimento das fanfarras. Como evoca um frequentador das fanfarras que as segue a partir de suas atuações no carnaval: “O Honk precisa furar a bolha do carnaval”. Isto é, alargar a base do público já fiel, que conhece as fanfarras através da sua atuação no carnaval.
As possibilidades de ruptura dos ritmos da cidade decorre também da modalidade ambulatória das fanfarras. No contexto do Rio, se concretiza através dos cortejos que atravessam ruas e praças da cidade, sem aviso prévio dos moradores e das autoridades, momentos muito destacados pelas fanfarras estrangeiras que participam do Honk ! Rio. Os cortejos permeiaram a programação do Honk! Rio 2018, com cinco cortejos dentro da programação, com nove fanfarras. Os cortejos são um dos momentos mais esperados pelo público e músicos. Em vários momentos que vai chegando o fim das apresentações, ouvem-se os gritos: “cortejo, cortejo”. A modalidade do cortejo remete bastante ao carnaval carioca e a atuação de vários blocos provindo de várias fanfarras brasileiras que participam do Honk! Rio.
O interessante dos cortejos é que sai do planejado, se submete à múltiplos imprevistos. Alguns testemunham de gostar de se “sentir perdido”, de “se deixar levar pelas fanfarras”. Somente àqueles a frente ou a par do festival sabem por onde estão indo, outros podem ser surpresos do destino. Alguns interagem, outros sorriem, tiram fotos, comentam entre si. Existe a preocupação com o trânsito dos carros nas ruas que percorre o cortejo nesses momentos, sempre há pessoas que ajudam os voluntários do festival a criar um corredor para os carros passarem. Para aqueles que prestigiam o carnaval de rua do Rio de Janeiro, há muitas semelhanças. As pessoas sentam no chão para descansar, se emocionam e dançam perto das fanfarras, certos vendedores ambulantes pegam ruas paralelas para ficar no melhor lugar no momento certo, à frente da passagem das fanfarras, para vender melhor cervejas aos participantes do cortejo. No caso do cortejo que aconteceu no Morro da Providência, os moradores mal se juntaram ao cortejo, sendo meio que desprevenidos, mas aclamavam muito o ocorrido. O fator surpresa e o ambiente criado pelas fanfarras levantava muitos risos, exclamações, algumas danças e muitas filmagens por celular.
Os cortejos são claros exemplos de rupturas nos ritmos rotineiros da cidade (Lefebvre, 1992; Edensor, 2010). Nesses momentos, existem várias indeterminações e vigora muita efervescência e emoções diversas. Há quase ausência, ou presença muito discreta da polícia, deixando a multidão na capacidade de gerenciar toda essa emoção que transborda e opera uma mudança de ritmo nos corpos e nas ruas percorridas. Opera-se uma interação com um maior público, embora muitas pessoas que cruzam o percurso o cuja moradia está ao longo do percurso, sejam desavisadas previamente. Essa fluidez do cortejo multiplica as possibilidades de interação e de envolvimento entre os corpos e a cidade. A efervescência decorrente dessa movimentação, junto com a dimensão sonora do cortejo, afeta e deixa lembranças que impacta o imaginário da cidade, o que já sobressai pelo sucesso dessa modalidade e a maneira como se constitui como vivẽncia singular para os participantes e é fotografado e saudado pelas pessoas que apenas assistem ao cortejo da sua janela. Trata-se ainda de um desafio permanente para os organizadores, em relação ao trânsito, à limpeza. que fomenta solidariedades e cuidado, mobilizando a contribuição de vários voluntários “espontâneos” durante o cortejo.
Apontamentos conclusivos
O festival Honk! Rio visto como um ritual urbano, que vem ocorrendo ciclicamente e a cada ano atraindo mais pessoas, nos possibilitou perceber rupturas cotidianas e novas formas de sentir e agir nos espaços urbanos. Procuramos tratar esta abordagem a partir das mudanças na organização, nas performances, na ocupação espacial e nos sentimentos em torno de participar e realizar o festival que observamos ao longo de 4 edições do Honk! Rio. É notável o crescimento do festival na cidade e sua influência para o surgimento de novas fanfarras e da realização do festival em outras cidades do Brasil. O surgimento crescente de novas fanfarras cariocas e a grande procura de inscrição e participação no festival Honk! Rio vêm atribuindo um valor especial e ímpar ao festival, se tornando um momento esperado para muitas bandas que se preparam de maneira diferenciada, trazendo repertório e performances novas.
Como procuramos analisar, o festival se particulariza em cada novo contexto social. Dentro desse contexto, a dimensão afetiva e de pertencimento do Honk! Rio é um retrato que espelha tanto a cultura carnavalesca e de rua carioca, quanto a importância de fazer parte de um movimento maior que neste caso vai além do espaço físico e cultural da localidade: o movimento internacional, musical e de ativismo que são os festivais Honk (s). Junto a dimensão afetiva comunitária, procuramos mostrar como o questionamento do ativismo social vem se destacando e gerando debates e transformações na organização e atuação das fanfarras participantes. O ano de 2018 foi expressivo neste sentido e trouxe para dentro das apresentações e rodas de conversas a participação feminina e de outros grupos minoritários, bem como a forma de ocupar os espaços e de interação os grupos locais. De forma geral, percebe-se que o festival não é um formato fechado, mas aberto e vivo, em diálogo com mudanças e questões sociais nas quais a cidade e o Brasil, como um todo passou e vem passando.
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[1] A base da pesquisa provém de um trabalho de campo acompanhando a preparação, realização e o pós-festival do Honk! Rio 2018, sem deixar de estabelecer comparações com as experiências dos anos anteriores (2015, 2016 e 2017), das quais também participamos como músicos, além das vivências no Honk Boston, Pronk e Honk NY (em 2013) e Honk Texas (em 2017). Foram realizadas observações, conversas e entrevistas - formais e informais - com os produtores, músicos e participantes. Preparamos um questionário base para as entrevistas e realizamos também um formulário on line que nos possibilitou entrevistar e gerar dados após o festival, sobretudo com os músicos e produtores, tendo em vista o cronograma intenso de apresentações das bandas durante o Honk! Rio.
[2] Foi estabelecido o número máximo de grupos participantes e um dos critérios de seleção para grupos novos foi a combinação entre qualidade musical e ações sociais que realizam. Das trinta fanfarras da programação, vinte e uma do Rio de Janeiro, sete vinham de três outras cidades do Brasil (três de São Paulo, duas de Belo Horizonte e duas de Brasília) e duas da França.
Bloka – Abertura do Honk! Rio 2018 - Praça Cinelândia, 15 Novembro. Crédito: PH Noronha